fevereiro 04, 2014

criatividade, participação e experiência

Os últimos shots of awe de Jason Silva, Creativity is Madness (2014) e Transfixed by Beauty (2014), fizeram-me reflectir sobre várias questões que me perseguem há vários anos, nomeadamente a problemática da relação entre a loucura e a arte, assim como as razões que suportam a existência desta, o sentimento de belo e os problemas da criação colaborativa. Para esta segunda questão, prefiro seguir "The Art Intinct" de Dennis Dutton, ainda assim a abordagem de Silva é aqui bastante relevante.


A questão da loucura em Creativity is Madness (2014), é abordada seguindo uma lógica suportada por muitos dos maiores artistas que se apresentaram por meio de personalidades neuróticas, com caráter depressivo e grande excentricidade. De certa forma são essas características que permitem a estes artistas aceder a universos e mundos de ideias distintos que a maior parte de nós não consegue aceder. Sabemos que a criatividade advém de um olhar distinto, do sair da caixa da formatação que nos rodeia, e em certa medida isso é conseguido através deste modo de estar no mundo. No meio dessa abordagem Jason acaba por dizer algo que me deixou ali estático a pensar,
"We pay money, for them [artists] to take us to spaces where we can not go by ourselves." 
Creativity is Madness (2014)

Verdade. Mas isto fez-me questionar, não a propósito da arte ou criatividade em si mesmas, mas antes sobre as suas variantes participativa e colaborativa, tão em voga nestes tempos de internet. Porque se aquilo que buscamos na ficção é verdadeiramente ser surpreendidos pelo criador, é que este nos leve até ao "buraco" encontrado por Alice, e nos faça sentir aí, porque razão haveremos de ser nós a criar esse mundo, no sentido das narrativas interactivas? Porque razão hei-de querer escolher o que faz um personagem, ou escolher um caminho a seguir numa história?

Tudo isto não pode ser alheio ao facto de sempre ter sido muito difícil criar objectos profundamente inovadores em modo colaborativo. A esmagadora maioria das grandes obras de arte, têm apenas um director, podendo ter colectivos que suportam tecnicamente a implementação da visão do artista.

Transfixed Beauty (2014)

Como diz depois Jason em Transfixed Beauty, o que nós queremos e esperamos da arte e do belo, é conseguir parar o tempo, é ser transportado para um espaço não-existente, sem regras nem obrigatoriedades. A evasão para fora do Eu, momentos de pura Transfixação.

Porque a arte não é objecto, é mundo, como diz Roy Ascott,
"Stop thinking about art works as objects, and start thinking about them as triggers for experiences. (Roy Ascott's phrase.) That solves a lot of problems: we don’t have to argue whether photographs are art, or whether performances are art, or whether Carl Andre's bricks or Andrew Serranos's piss or Little Richard’s 'Long Tall Sally' are art, because we say, 'Art is something that happens, a process, not a quality, and all sorts of things can make it happen.' ... [W]hat makes a work of art 'good' for you is not something that is already ‘inside’ it, but something that happens inside you — so the value of the work lies in the degree to which it can help you have the kind of experience that you call art." Brian Eno

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